Jovem morre após tentativa de aborto dentro de motel, diz polícia
04/08/2025
(Foto: Reprodução) Jovem morre após tentativa de aborto dentro de motel, diz polícia
Uma jovem de 20 anos morreu após uma tentativa de aborto clandestino dentro de um motel em Ceres, na região central de Goiás. De acordo com a Polícia Civil, um casal foi preso em flagrante suspeito de envolvimento no crime. Eles não tiveram os nomes divulgados.
A vítima foi levada pelo casal para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade na sexta-feira (1º), inconsciente, com crises convulsivas e “sinais compatíveis com a realização de procedimento abortivo clandestino”, informou a polícia. A jovem teve a morte confirmada na unidade.
Em nota, o motel lamentou o falecimento da vítima e disse que "não compactua com qualquer prática ilegal ou que atente contra a vida e os direitos humanos" (leia a nota completa ao final do texto).
Ao g1, o delegado Nelinho Almeida, contou que os relatos indicam que a vítima teve um relacionamento com o homem preso e estava grávida dele. De acordo com a polícia, a mulher presa é namorada do suspeito.
Os suspeitos se identificaram como cirurgião-dentista e técnica em enfermagem. Segundo o delegado, a mulher teria sido responsável pela aplicação da medicação.
Em nota, o Conselho Regional de Enfermagem de Goiás (Coren-GO) disse que está acompanhando o caso e se solidarizou com a família da jovem. "A conduta da profissional, caso confirmada, será analisada à luz da ética e da legislação que rege o exercício da enfermagem", frisou o órgão (leia o posicionamento na íntegra ao final do texto).
O Conselho Regional de Odontologia de Goiás (CROGO) disse em nota que o caso não tem relação com o exercício da profissão, mas que acompanha as investigações com atenção (leia nota completa abaixo).
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Os suspeitos passaram por audiência de custódia no sábado (2) e tiveram a prisão em flagrante convertida em preventiva. O g1 não conseguiu localizar o contato da defesa dos envolvidos até a última atualização desta matéria.
De acordo com o juiz, os investigados disseram em depoimento que "tinham ciência que a jovem correria risco de vida para a realização do aborto, bem como que sabiam da ilegalidade do procedimento".
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Reprodução/TV Anhanguera
Tentativa de aborto
Conforme o documento de audiência de custódia obtido pelo g1, a jovem foi levada até o motel pelos suspeitos, onde prepararam a substância abortiva em 100ml de soro fisiológico.
Em depoimento, a técnica em enfermagem confirmou que foram aplicadas doses do medicamento na vítima para interromper a gravidez. Quando a gestante começou a passar mal, o casal alegou que tentou realizar manobras de socorro. Em seguida, a vítima apresentou sinais de parada neurológica e foi levada à UPA, contaram.
Gravidez
O cirurgião-dentista relatou que foi procurado pela jovem, que disse estar grávida, e que ofereceu apoio a ela.
“Contou, ainda, que conversou com ela e disse que lhe apoiaria em qualquer decisão, tanto a relacionada a manter a gravidez, como a relacionada a praticar o abordo. Disse que ela decidiu abortar e, então, começou a pesquisar sobre como realizar o procedimento”, narrou o suspeito, de acordo com o documento.
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O suspeito detalhou às autoridades que “após pesquisar bastante, mandou manipular o medicamento abortivo e, então, em contato com a jovem, decidiram realizar o procedimento”.
Na audiência, o juiz destacou que há indícios de que os suspeitos tentaram descartar os materiais utilizados para o aborto na UPA de Ceres.
O caso segue sob investigação pela Delegacia de Polícia de Ceres e serão apurados exames toxicológicos, laudos periciais e depoimentos testemunhais para a conclusão do inquérito policial.
Comoção
A morte da jovem gerou comoção nas redes sociais. Familiares e amigos lamentaram a partida precoce dela. No Instagram, uma amiga escreveu que ela era uma moça alegre e bondosa.
“Tão jovem, tão cheia de vida, cheia de sonhos para realizar, e hoje recebo uma das notícias mais tristes da minha vida”, publicou um primo.
Em nota, a Câmara Municipal de Ceres também lamentou a morte. “Nossos sentimentos aos familiares e amigos neste momento de dor", pontuou o órgão.
Leia a nota do motel na íntegra:
"A empresa vem exteriorizar que lamenta profundamente pelo trágico ocorrido da última sexta-feira, dia 01 de agosto de 2025, reforçando que não compactua com qualquer prática ilegal ou que atente contra a vida e os direitos humanos.
Informamos ainda que logo que tomamos ciência sobre a situação, colaboramos integralmente com as autoridades competentes, fornecendo todas as imagens, registros e informações solicitadas, reafirmando nosso compromisso com a legalidade e a transparência.
Reforçamos ainda que as alegações de que o motel apresentou resistência às investigações são absolutamente falsas. Toda a equipe do Safari Motel esteve à disposição desde o primeiro contato, contribuindo de forma ética e responsável com o trabalho da polícia.
Por fim, destacamos que o Safari Motel não possui qualquer envolvimento, responsabilidade ou conhecimento prévio sobre os atos praticados por terceiros em nossas dependências, e continuamos confiando plenamente na apuração da verdade por parte das autoridades.
Agradecemos a compreensão e pedimos cautela na disseminação de informações sem confirmação oficial, em respeito à honra de nossa equipe e à seriedade com que conduzimos nosso trabalho há anos."
Leia a nota do Conselho Regional de Enfermagem de Goiás:
"O Coren-GO informa que está acompanhando, com atenção, as apurações relacionadas ao envolvimento de uma profissional da enfermagem em um caso ocorrido no município de Ceres, nesta sexta-feira (01/08), que resultou no falecimento de uma mulher após uma suposta tentativa de aborto.
O Coren-GO expressa solidariedade aos familiares e amigos da vítima neste momento de dor e se coloca à disposição das autoridades competentes para colaborar com os esclarecimentos necessários, respeitando os trâmites legais e o devido processo.
A conduta da profissional, caso confirmada, será analisada à luz da ética e da legislação que rege o exercício da enfermagem."
Leia a nota do CROGO na íntegra:
"Conselho Regional de Odontologia de Goiás (CROGO) informa que tomou conhecimento do caso em questão, através de notícias veiculadas pela imprensa, e que acompanha com atenção os desdobramentos das investigações.
A princípio, o caso não tem relação com o exercício profissional da Odontologia e, aparentemente, com a competência do CROGO, entidade prestadora de serviço público, instituída pela Lei nº 4.324, de 14 de abril de 1964, para fiscalizar as profissões odontológicas regulamentadas - cirurgião-dentista, técnico em prótese dentária, técnico em saúde bucal, auxiliar em saúde bucal, auxiliar em prótese dentária - , em defesa da sociedade.
Importante esclarecer à sociedade civil que o CROGO instaura e julga, por meio de sua Comissão de Ética e de seu Plenário, os processos éticos contra profissionais e estabelecimentos que infringem as normas éticas, tendo o poder de puni-los, inclusive com a cassação do registro profissional ad referendum do Conselho Federal de Odontologia.
Caso seja instaurado processo ético em desfavor do profissional que cometeu o crime, a tramitação correrá sob sigilo.
Com relação ao registro profissional, informa-se que, atualmente, a inscrição do profissional está ativa perante o CROGO, segundo consulta pública."
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